Um Breve Conto Sobre Existir – Por Samuel Cordeiro

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Imagem - Um Breve Conto Sobre Existir
Crédito: Divulgação

Um Breve Conto Sobre Existir

Até quando seremos tão duros, tão fechados
Inexplicavelmente hostis
Aceitando a insensibilidade e indiferença que dilacera
O desejo de não aqui mais pertencer latente é
Essa densidade não acolhe minh’alma
Em agonia de não poder “ser” todo o tempo
Eu quis ser levado por anjos

Sorrisos estéreis
Hipocrisia tenaz dos olhos
– Mas, hei! vejam o brilho desta noite
Acho que ouvi asas

Por hoje apenas sorrir e à areia desenhar
A mente lança ao limbo os dedos a apontar
Não são reais, nós o somos, nós podemos
O poder de Sentir nos foi concedido
Poderíamos voar

Os anjos sentiram as lágrimas
Atendendo os gritos das profundezas a face nos tocaram
Mas em nosso riso febril não os levamos a sério

Vamos correr com nossos irmãos
Uns aos outros é tudo o que temos
Queria que esse nosso universo vasto fosse
Mas qual é a pretensão de o mundo mudar
Mudarmo-nos já nos consome
Juntos eu não me sinto distante
A imensidão é logo ali
O mercúrio nunca foi tão belo

Quão pequeno a “maior criação” o é
Podes entender
Despedace seu infame ego
Mergulhe em si e encontrará
Permeando tudo ao nosso redor
Chega quase doer de tão poderoso
Permita-se “Ver” e sinta
Os anjos parecem interessados e resolvem ficar mais alguns instantes

O peito parece querer entrar em supernova
E de repente você percebe que sempre esteve aí
Enraizado em seu corpo, envolto ao seu espírito
Quando se insiste em nada sentir
Se alimenta a pérfida ilusão de ser grande
Quando nada somos
Somente parte da poderosa energia

A fogueira está acessa e de nossa taça os anjos bebem

Tomei a espada de Azrael e em seu vibrar fizemos uma fanfarra
Dedicada aos que verdadeiramente possuem o poder de existir
Dançamos sob a eternidade
Iluminados pelo Universo em explosão

Os anjos a canção já conhecem, e logo aprendem a sorrir

A dúvida por vezes bate à porta
Tal prazer compensa toda a dor que consigo traz
Não é fácil nem simples sentir
Quanto mais perto do sol voarmos
Maiores serão as sombras a nos seguir
Mas basta uma simples vista ao redor e tal dúvida se esvai
– Olhem já não há tanta cera em nossas asas
– E o quão fortes e luminosas estão a se tornar

Pertencemos a ela e ela nos pertence
A força que não julga, entrelaça
Toda esta paz que não se explica nem se corrompe
Já não precisamos o fogo roubar
Com a chama de nossas almas voaremos alto e ao Olimpo queimaremos

A luz começa a nos tocar, e os anjos já dançam

As estrelas adormecem
O horizonte nos abençoa
Um rasgo de fogo beija-nos a face
Petrificando-as em incandescente alegria
O ar quase nos falta
As palavras desnecessárias se tornam
Os espíritos se tocam e sentimos

Diante de tal nirvana até os anjos se calam
E nesse momento já estão nus

Já não somos os mesmos, e temos companhia
Somos muitos, conectados pelo delicado fio da existência
Portanto hoje brincaremos abraçados
A dor aqui não tem mais lugar
É como se a Natureza de volta nos aceitasse
E em seu seio nos recebesse

Êxtase profundo

Baco e Vênus se chocam
Os lábios se tocam
O cataclismo ofegante as asas nos inflam
Alçamos voo
E ao nosso lado
Os anjos

 

Samuel Cordeiro

Por Samuel Cordeiro – Montanhista venerador da Natureza, apaixonado por Literatura, Música, Filosofia, Psicologia e História. Contador, Graduado pelo Instituto Federal do Paraná, atua na área corporativa e em negócio próprio.

Encontrou na escrita uma forma de se comunicar com seu interior, um poeta em redescobrimento e construção, que acredita que somente as relações Humanas podem salvar o Mundo.

 

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